Estudos sugerem que o autismo pode ser reversível
Se
o diagnóstico do autismo ainda é um caminho desconhecido, a cura dos
sintomas é uma grande incógnita. Mas um estudo divulgado no Journal of Autism and Developmental Disorders,
uma publicação mensal destinada a promover o entendimento das causas e
tratamentos do autismo, sugere que a síndrome pode regredir muito, a
ponto da criança deixar de apresentar características típicas do
espectro.
Para
comprovar a possibilidade de regressão do Transtorno do Espectro do
Autismo (TEA), os pesquisadores formaram três grupos com meninos e
meninas de 8 a 18 anos de idade. Em um grupo reuniram 23 crianças e
adolescentes sem nenhum diagnóstico da síndrome, o chamado “grupo
típico”; noutro, estavam 27 diagnosticadas com autismo; e num terceiro
grupo 22 crianças e adolescentes com uma condição que eles chamaram de
“resultado ideal” — elas foram diagnosticadas com autismo antes dos 5
anos de idade, mas não apresentam mais nenhum sintoma do TEA.
A
partir daí foi feito um teste de diagnóstico padrão, que envolveu a
análise do comportamento das crianças para identificar as
características do espectro. Assim, atitudes simples, como contar
histórias e escovar os dentes, foram assistidas por estudantes
universitários que desconheciam o diagnóstico de cada criança e não
tinham conhecimento para distinguir características típicas do autismo. O
que eles tinham que fazer era usar uma escala para classificar o quanto
cada criança parecia agradável, consciente, extrovertida, neurótica e
aberta à experiência.
Tanto
nesse, quanto em outros testes realizados, a pontuação do grupo
“resultado ideal” foi semelhante à do “grupo típico”. Um resultado que
surpreendeu os pesquisadores foi que as crianças que não apresentavam
mais as características do autismo foram classificadas como mais
falantes e assertivas e menos reservadas do que as outras do grupo
típico.
Esse
segundo resultado conduziu a um outro, também intrigante: as crianças
do grupo “resultado ideal” demonstraram características típicas do
Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), como ter
mais facilidade para se distrair durante uma conversa ou se comportar de
forma mais animada quando falam de determinados assuntos. Essa
constatação vai de encontro a estudos que sugerem que crianças que
superam o autismo podem desenvolver comportamentos típicos do TDAH.
Não
é a primeira vez que essa notícia animadora surge, mas é preciso ter
cautela. “Os primeiros artigos mostrando que uma pequena porcentagem de
autistas que conseguiram sair do espectro foram duramente criticados
pela falta de controle ou por um possível erro no diagnóstico inicial.
Em 2013 alguns trabalhos revisitaram essa questão, corrigindo os
problemas iniciais. Eles apontaram que 1–5% dos autistas realmente
conseguem sair do espectro. Agora foi publicado mais um trabalho
confirmando essas observações: o autismo é reversível. A grande questão
é: por que isso acontece com uns e não com outros?”, questiona o biólogo
da equipe técnica da Tismoo, Dr. Alysson Muotri.
Não
há uma explicação científica. Os próprios pesquisadores sugerem que
“estudos que acompanham as crianças autistas desde o diagnóstico podem
ajudar a confirmar ou refutar as novas descobertas”. Para o Dr. Muotri,
essa seria uma importante revelação. “Terapias realmente ajudam muito,
mas não nos ajudam a explicar o fenômeno. Nós trabalhamos com a hipótese
de uma causa neuro-genética que predispõe alguns autistas a superar a
própria condição. Entender isso nos permitiria ajudar aqueles menos
favorecidos”, finaliza.
Fonte: https://medium.com/tismoo-biotecnologia/estudos-sugerem-que-o-autismo-pode-ser-revers%C3%ADvel-7afd9f2853e1#.ewolqz6a8