quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O dom da dedicação


O dom da dedicação






qua, 15/08/12




por Alysson Muotri |


categoria Espiral






A única coisa que separa um amador de um expert é a dedicação.
Qualquer um pode ser um gênio se dedicar o tempo apropriado
e manter o foco em se aprimorar.
O melhor de tudo é saber que nunca é tarde.


Sempre ouço pessoas dizendo que não
começam a aprender uma nova língua ou
um instrumento musical porque deveriam ter iniciado mais cedo,
quando crianças.
Pior, escuto pessoas extremamente capazes dizendo
que não têm talento natural para uma determinada atividade.
Muito provavelmente essas pessoas estão enganadas
e subestimam a própria capacidade.
Se você tiver 30 anos e começar a
aprender piano seriamente amanhã,
chegará aos 50 anos de idade com 20 anos de prática
e poderá ser um prodígio.
Se começar com 50, aos 70,
será um dos melhores pianistas da terceira idade.
A idéia de que qualquer pessoa tem o potencial
para se tornar um expert ou adquirir uma habilidade
tem recebido cada vez mais fundamentos científicos.


Com exceção das limitações físicas de cada indivíduo,
acredita-se que os ditos “dons naturais”
sejam mera consequência da capacidade
de concentração em uma determinada atividade.
O talento parece ser resultado direto da dedicação,
ou do desejo de fazer melhor.
Em teoria, qualquer pessoa com dedicação suficiente
para melhorar em uma atividade ficará melhor nela com o tempo.
Essa conclusão vem do trabalho do neurocientista K. Anders Ericsson,
da Universidade Estadual da Flórida, nos EUA.


Anders estuda gênios, prodígios e experts por mais de 20 anos.
Observando o processo de aprendizagem desses “talentos”,
concluiu que não basta apenas a repetição incansável,
mas procurar por um nível de controle em cada aspecto da atividade escolhida.
Ou seja, cada sessão é uma tentativa de fazer melhor que a anterior.
A maioria dos amadores chega somente até um estágio de conforto
e não dedica tempo suficiente para melhorar.
A falta de ambição nos torna medíocres.





A implicação dessa observação é simples.
Qualquer um determinado a gastar mais tempo em uma atividade,
procurando melhorar a cada repetição,
pode se tornar um expert – brilhante até. Portanto, a parte genética
ou o ambiente do indivíduo não contribui mais do que para 1% do sucesso.
É possível que esse 1% seja o diferencial para ser o melhor do mundo,
mas não contribui para você se tornar brilhante em alguma atividade.
Veja no gráfico acima que a maioria das pessoas acaba em
três categorias ao começar uma atividade nova: expert, amador ou desistente.
Os desistentes são aqueles que decidem que não vale a pena continuar.
A classe dos amadores é intrigante,
pois são os que ficam satisfeitos com o nível em que estão.
Reconhecemos esse padrão quando falam
“Sei que poderia fazer isso de outra forma,
mas está funcionando assim então não vou mudar”.
Em outras palavras, eles passaram a
desgastante fase inicial e não querem
entrar numa outra fase de estresse.


Ao meu ver, esse é o grande diferencial dos experts.
O salto para longe do amadorismo e zona de mediocridade
consiste em quebrar a barreira da paixão.
A atividade fica tão prazerosa que nos apaixonamos por ela.
E é esse sentimento, essa sensação que nos motiva a seguir melhorando.