// Bom Princípio
Menino autista não recebe comunhão e caso gera polêmica nacional
O fato aconteceu no domingo, quando os pais do menino Cassio Maldaner o
levaram para fazer a sua primeira comunhão. Letus e Maria Sivani
Maldaner, os pais do garoto, ficaram frustrados porque, de última hora, o
padre resolveu que Cassio não deveria participar da cerimônia.
O fato causou grande frustração para os familiares, que haviam preparado
uma festa para comemorar o evento e gerou críticas à atitude do
sacerdote, que se propagaram através das redes sociais, via internet.
Na manhã de quarta, o jornal Zero Hora publicou grande reportagem sobre o
assunto, dando ao assunto uma repercussão estadual e nacional.
Ocorre que o menino, levavado pelos pais, chegou a entrar na fila das
crianças que receberiam a eucaristia, que é um evento de grande
significado para a Igreja Católica e a comunidade principiense, muito
religiosa, acompanha com grande interesse.
Os organizadores do evento, teriam advertido aos familiares de que o
garoto não estava apto para fazer a primeira comunhão e pediram que ele
fosse retirado da fila. Os pais obedeceram, mas Isso causou grande
desconforto a eles, que esperavam, ainda assim, que o padre Pedro
Ritter, pároco de Bom Princípio, concedesse uma bênção ao menino. Assim,
a festa que havia sido preparada para comemorar a primeira comunhão de
Cássio, transformou-se num triste evento, de frustração e lamentações.
Polêmica na Internet
Quando o assunto tomou os jornais do estado, noticiado na rádio Gaúcha,
na RBS TV e também na TV Globo, a projeção foi assombrosa.
Na internet, ocorreram manifestações exaltadas, de crítica e, também, em defesa da Igreja.
Pessoas de Bom Princípio, que conhecem melhor as circunstâncias locais também se manifestaram:
“O que me impressiona é como algumas pessoas buscam deturpar o
ministério de um padre, especialmente com a ajuda da mídia. Quem está
por trás disso?”, questionou a advogada Silvana Afonso Dutra.
“Acredito que a polêmica fosse desnecessária, pois, ao que parece, se
trata de uma falha de comunicação entre as partes”, destacou o
empresário Dárcio Antônio Schneider, enquanto conversava com a
reportagem do Fato Novo.
“Em vez de perderem tempo publicando mensagens sem conhecer os fatos
como são, peguem este tempo e rezem a Deus, pedindo que conceda ao
Cássio a graça de compreender o sentido da eucaristia e, desta forma,
dar a toda sua família a imensa alegria de receber esse sacramento
conscientemente!”, comentou Rodrigo Ledur na sua página do Facebook.
>> Histórico do caso
Segundo o relato feito pelos familiares, há sete anos, quando o pároco
de Bom Princípio ainda era Leonardo Reichert, Maria Silvani Maldaner,
teria ido procurar o padre para que o garoto fizesse a primeira
eucaristia. Do padre ouviu a afirmativa de que seria possível, mas como
Cássio ainda era pequenino, isso deveria ser feito em momento oportuno e
posterior.
Mais recentemente, a família teria ido procurar o atual pároco, Pedro
Ritter, e dele ouviu que, nestes casos, a Igreja não exige a primeira
eucaristia, já que o menino, talvez, não compreendesse o exato sentido
da comunhão.
Conforme diz o padre, “como a mãe queria muito, e nós não temos
catequistas preparadas, pedi a ela que ensinasse ao menino o sentido da
eucaristia. Se ele entendesse, ainda que do jeito dele, o que estava
acontecendo, e se aceitasse a hóstia, ele poderia participar”.
Ainda segundo o padre, às vésperas do evento, foi feito um teste para
ver se o menino poderia participar da cerimônia e, nele, o menino não
teria aceito a hóstia quando lhe foi oferecida. Assim, novamente, foi
recomendado à família de que tentassem fazer o menino compreender, de
seu jeito, o que significa o ato de fé.
Discriminação, ou falha de comunicação?
No final de semana, mais precisamente na sexta-feira, dia 15, a família
teria ido procurar o padre e não o localizado. “Ficamos de fazer um
novo teste, que não aconteceu. Na última sexta-feira ocorreu o ensaio, e
eu esperava falar com o padre, mas ele não participou. Como não houve
mais nenhuma manifestação, achei que estava tudo certo”, conta a mãe. O
religioso, no entanto, afirma que em nenhum momento Cássio aceitou a
hóstia. Sem que isso acontecesse, Ritter diz que a orientação à mãe é
que se esperasse outro momento para que o adolescente participasse da
eucaristia. O menino, que é autista e por conta da síndrome, tem
dificuldade de convívio social e comunicação, precisava de orientações
especiais e, ninguém seria mais indicado para tal que a própria família.
No domingo, a família levou o garoto para a fila da comunhão julgando
que ele poderia receber o sacramento, o que não foi de concordância do
padre. Nascia aí a grande polêmica.
Muitas pessoas viram o fato como um caso de discriminação. “Não houve
nenhum tipo de preconceito. Decidimios apenas esperar por um outro
momento, em que ele aceitasse e entendesse o que estava acontecendo”,
afirma o padre.
Dom Paulo de Conto, que é o bispo da Diocese de Montenegro, pretende se
inteirar mais do caso, todavia, deixou claro que não houve
discriminação.
A família espera que o garoto possa ter o direito de comungar, mas não
aceita a hipótese da primeira vez ser pelas mãos do padre Ritter. Ainda
que sejam muito ligados à religião, os Maldaner afirmam que não voltarão
ao templo principiense enquanto o padre Pedro for o pároco.
Alex Steffen
alex.steffen@fatonovo.com