sexta-feira, 25 de maio de 2012
Autismo e tecnologia
Autismo e tecnologia
Escrito por Paiva Junior
Por Murilo Queiroz
Como pai do Max, um menino autista de 4 anos de idade, e cientista da computação, é natural que um dos meus principais interesses seja o uso de novas tecnologias voltadas para auxiliar a educação formal e informal, a comunicação e o convívio social dos autistas.
A cada dois anos o renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT) oferece uma disciplina chamada “Autism Theory and Technology”, cujo principal objetivo é justamente explorar as possibilidades do uso de tecnologia, especialmente programas de computador (software) e dispositivos (hardware) para melhorar a qualidade de vida dos autistas e nossa compreensão do autismo propriamente dito. Também há iniciativas acadêmicas nessa direção no Brasil, mas ainda são muito raras, e dificilmente as soluções propostas pelo mundo acadêmico se transformam em produtos acessíveis ao usuário final (pais, professores, cuidadores e, é claro, os próprios autistas).
Felizmente isso vem mudando, e a cada dia vemos mais softwares específicos para autismo sendo disponibilizados. O lançamento do iPad, da Apple, um computador em formato de “tablet” (ou prancheta) operado exclusivamente com as mãos (não é preciso mouse ou teclado) e capaz de exibir gráficos de excelente qualidade chamou a atenção de entusiastas do mundo todo.
Em agosto de 2010 foi publicada no San Francisco Weekly uma reportagem de grande repercussão, que relatava alguns casos de sucesso em que pais de crianças autistas utilizam programas específicos com resultados surpreendentes. Isso gerou uma enorme onda de interesse; afinal o que o iPad teria de “mágico” e como ele poderia ajudar em casos de autismo? Valeria a pena um grande investimento num aparelho caro (um iPad custa o mesmo que um bom notebook) e frágil? E o que se faz com ele?
O “segredo” está, certamente, não apenas no dispositivo em si, mas nos programas utilizados. Muitos deles podem ser obtidos gratuitamente, enquanto outros podem ser comprados (com preços variando de razoáveis um ou dois dólares até várias centenas, em alguns casos) e instalados pelo próprio usuário, através da App Store (uma loja virtual de programas para os dispositivos da Apple). Essa é a primeira grande dificuldade dos pais interessados, já que nenhuma dessas aplicações está disponível em português, e nem sempre é fácil adquirir o software devido a sua indisponibilidade no Brasil.
A utilidade e adequação dos programas também varia bastante. Alguns são usados como auxiliares na comunicação baseada ou inspirada no PECS (Picture Exchange Communication System, “Sistema de Comunicação por Troca de Figuras”). O interessante é que muitos desses programas, além de já trazerem um grande número de figuras prontas para serem usadas, também permite que os pais incluam as suas próprias fotografias e gravações com a própria voz, personalizando a aplicação com elementos do dia a dia do autista (e reduzindo o problema da aplicação não ter uma versão em português).
Outras aplicações são atividades pedagógicas mais específicas e tradicionais, para o ensino de cores e formas, letras e números, e formação de palavras. Também há aplicativos para trabalharem dificuldades específicas dos autistas, como reconhecer expressões faciais e para exprimir seus próprios sentimentos (selecionando de forma visual figuras que representam alegria, medo, irritação, etc.).
E às vezes aplicações comuns, feitas sem o autismo ou educação formal em mente, tais como jogos e aplicações musicais (que permitem ouvir e compor músicas) podem servir como um excelente reforçador em contextos como a ABA (Análise Aplicada de Comportamento, uma abordagem baseada em psicologia comportamental bastante bem-sucedida com autistas).
Mas não existe um “pacote pronto” ou um “iPad para Autistas”. O caminho mais comum é simplesmente fazer o download de várias aplicações diferentes, e explorá-las junto com a criança, numa atividade em conjunto com os pais, avaliando o interesse e a utilidade de cada uma. Algum conhecimento dos fundamentos teóricos em que se baseiam os programas – especialmente os relacionados a ABA e PECS – também pode ser útil.
Os recursos disponíveis ainda são precários, mas são os primeiros passos em uma área muito promissora!
Murilo Saraiva de Queiroz, 33 anos, é cientista da computação, mestre em engenharia eletrônica, e trabalha com o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias na Igenesis. Ele mora em Belo Horizonte (MG) com sua esposa Cyntia, psicóloga, e seu filho, Max, de quatro anos, autista. Seu blog é muriloq.com/blog/
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